sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pensamento do Dia:

* Ninguém é mais escravo do que aquele que falsamente se acredita livre.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

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terça-feira, 18 de maio de 2010

O Papa, a Pedofilia e a Luta de Classes

Sara Flounders*
13.Mai.10 :: Outros autores
Papa Bento XVIAo afirmar no avião que o transportou a Portugal que “Os ataques contra a Igreja e o Papa não vêm apenas do exterior, os sofrimentos vêm do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja”, Bento XVI procurou sacudir as imensas responsabilidades que têm na protecção dos sacerdotes que abusaram pessoalmente de milhares de crianças confiadas à responsabilidade da Igreja. Sara Flounders, no bem documentado texto que hoje publicamos, acusa Ratzinger de ser o principal responsável do encobrimento e protecção dos sacerdotes que abusaram de crianças um pouco por todo o mundo.

Há mais de 150 anos, no Manifesto Comunista, Marx explicou que «toda a História da humanidade foi uma História da luta de classes. (…) patrícios e plebeus, senhores e servos, opressores e oprimidos (…) sempre se enfrentaram, mantiveram a luta, umas vezes velada e outras franca e aberta. (…) A moderna sociedade burguesa (…) substituiu as velhas classes, as velhas condições de opressão, as velhas formas de luta por outras novas»

Uma luta feroz tem atormentado a Igreja Católica durante os últimos 25 anos, com alguns dos oprimidos sobreviventes de abusos sexuais durante a sua infância a exigirem, cada vez mais, que se actuasse contra sacerdotes individuais e, ultimamente, contra a poderosa hierarquia eclesiástica, incluindo bispos e cardeais que, constantemente, protegeram os violadores.

Esta exigência de justiça vinda de baixo conseguiu o impensável: trazer á luz do dia papel do actual papa, Bento XVI, num punível encobrimento internacional.

O marxismo é uma ciência que explica as relações de classe subjacentes a factos sociais que parecem obscuros e distantes da luta imediata dos trabalhadores. A actual controvérsia, por muito que se esconda por detrás dos paramentos clericais, não deixa de ser uma luta de classes no interior da Igreja Católica. Trata-se de uma pequena parte da luta de classes global que aspira á absoluta igualdade de direitos e de autoridade.

O que antes se aceitava por não haver outro remédio tornou-se hoje insuportável. Os milhares de vítimas de abusos sexuais que hoje denunciam casos de pedofilia eram crentes genuínos, filhos da classe trabalhadora, sem qualquer possibilidade – até agora – de opor resistência ou confessar às suas próprias famílias os delitos de que foram vítimas. Eram crianças violadas em hospícios, reformatórios, escolas para surdos-mudos e deficientes, escolas paroquiais locais e igrejas.

Este desafio desde baixo contra o secretismo e a repressão é uma clara ruptura com o passado. O mau-trato sexual permaneceu impune porque as autoridades religiosas eram impunes. Em muitas escolas paroquiais as violações eram clandestinas, mas os maus-tratos físicos, psicológicos e as humilhações eram tão habituais que se tornaram a normalidade.

Logo que as vítimas sobreviventes começaram a falar os sacerdotes que se colocavam ao seu lado foram silenciados e excluídos do ensino ou de posições de poder. Mas a hierarquia eclesiástica – um pequeno grupo que detém de forma absoluta a autoridade religiosa – não conseguiu silenciar ou deter este movimento.

Praticamente, nenhuma das denúncias surgiu do exterior ou das autoridades laicas, receosas de ofender uma instituição tão poderosa, mas todas surgiram de indivíduos católicos sem qualquer poder no interior da Igreja que recusaram continuar silenciosos. Apresentaram queixas, fizeram declarações e, por último, fizeram queixas judiciais, uma após outra.

A hierarquia eclesiástica, empenhada em defender o seu inquestionável poder, exigiu silêncio absoluto. Ameaçou com a excomunhão os que apresentassem queixa judicial e exigissem a intervenção das autoridades civis. Este esforço para manter o controlo absoluto dos sacerdotes defronta-se com uma luta interna muito mais ampla, que tenta esclarecer quais são os interesses a que esta poderosa instituição se devia submeter.

O escândalo internacional que hoje emociona a Igreja Católica inclui provas irrefutáveis de dezenas de milhares de casos de violações infantis e maus-tratos sexuais cometidos por milhares de sacerdotes. As queixas apresentadas aconteceram ao longo de décadas. A luta mais encarniçada começou nas cidades que até agora albergavam os crentes mais devotos dos EUA. Daí passou à Irlanda, depois a Itália e, mais tarde a regiões da Alemanha com fortes populações católicas.

Perturbador, e agora a receber um tratamento quase quotidiano nos media, é a certeza de que o actual papa, Bento XVI, foi durante décadas responsável pessoal pela ocultação, encobrimento e sigilo sobre os depredadores sexuais. As condenações mais enérgicas provêm dos que, apesar disso, se consideram parte integrante da Igreja Católica.

O teólogo liberal Hans Kung descreveu assim o papel do papa Bento XVI no auge da ocultação e do silêncio que rodeava as violações: «Não havia uma só pessoa em toda a Igreja Católica que soubesse de mais casos de abusos sexuais que ele, visto que tais casos faziam parte do seu trabalho diário. (…) O que ele não pode fazer é apontar o dedo aos bispos e dizer-lhes que não fizeram o suficiente. Foi ele quem deu as instruções na qualidade de Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé e, depois, voltou a dá-las como papa.»

Em 26 de Março de 2010, o editorial do National Catholic Reporter afirmava o seguinte: «O Santo Padre tem de responder directamente, num foro credível, às perguntas sobre qual foi a sua responsabilidade como arcebispo de Munique (1977-1982), como perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé (1982-2005) e como papa (desde 2005 até hoje) pela inépcia com que tratou a crise dos abusos sexuais do clero.»

Antes de em Abril de 2005 ter sido nomeado para o cargo máximo da hierarquia católica, o papa Bento XVI era conhecido como o Cardeal Joseph Ratzinger. Os seus adversários referiam-se a ele como «o pitbull» e como o «rotweiller de Deus». Ratzinger era então um protegido da extrema-direita do papa João Paulo II, que o nomeou para que impusesse a disciplina e a autoridade eclesiástica numa instituição afundada numa profunda agitação.

Durante 24 anos, Ratzinger presidiu à instituição mais poderosa e historicamente mais repressiva da Igreja Católica, a Congregação para a Doutrina da Fé, entidade que durante séculos tinha sido conhecida como o Santo Ofício da Inquisição, responsável pelo estabelecimento de tribunais religiosos para a condenação e a tortura de dezenas de milhares de pessoas acusadas de bruxaria e heresia. A Inquisição deu lugar a pogroms e expropriações massivas de judeus e muçulmanos. Foi através deste Ofício no interior da Igreja que o papa João Paulo II implantou uma moderna Inquisição.

Um vasto encobrimento perfeitamente documentado

A escala da criminosa conspiração internacional de silêncio destinada a proteger delinquentes sexuais em série e a pôr os interesses da Igreja acima da segurança e bem-estar das crianças ficou perfeitamente documentada no ano passado com a forma como se tratou o caso de abusos sexuais na Irlanda, um país maioritariamente católico.

Depois de anos de petições das vítimas de violações para que a Igreja tomasse medidas e o governo julgasse os responsáveis e, depois de uma série de actos censórios nos media irlandeses, o governo de Dublin encomendou um estudo que demorou nove anos a fazer. Em 20 de Maio de 2009 a Comissão publicou um relatório de 2.600 páginas.

Este relatório incluía testemunhos de milhares de antigos internos e de responsáveis por mais de 250 instituições controladas pela Igreja. A Comissão constatou que quer sacerdotes quer freiras católicas tinham aterrorizado milhares de meninos e meninas ao longo de décadas e que os inspectores do governo tinham fracassado na hora de cortar radicalmente com as tareias, as violações e as humilhações crónicas e diárias. O relatório qualificou as violações e os abusos sexuais de «endémicos» nas escolas e nos orfanatos católicos dirigidos pela Igreja da Irlanda (www.childabusecommission.com/rpt/).

A grandeza dos abusos na Irlanda e a força do movimento que exigia o seu reconhecimento fizeram com que o papa Bento XVI se visse forçado a emitir uma débil desculpa, na qual são responsabilizados os bispos irlandeses. Esta recusa em admitir a menor responsabilidade pelo seu conhecido procedimento como dirigente – sempre insistiu no silêncio – encolerizou milhões de católicos sinceros e fervorosos, e enfureceu ainda mais uma oposição que há décadas está em crescendo no interior da Igreja Católica.

Em Springfield (Massachusetts), o reverendo James J. Scahill – há anos critico do encobrimento eclesiástico – respondeu durante um sermão à frouxa desculpa, qualificando alguns clérigos de «criminosos» e pedindo a demissão do papa Bento XVI:
«Devemos declarar pessoal e colectivamente que duvidamos muito da honestidade do papa e daquelas autoridades eclesiásticas que o estão a defender ou inclusivamente a partilhar responsabilidades em seu nome. Começa a ser evidente que, durante décadas, se não séculos, os dirigentes da Igreja ocultaram os abusos sexuais de crianças e menores para proteger a sua imagem institucional e a imagem do sacerdócio», disse Scahill (New York Times, 12 de Abril de 2010).

Scahill acrescentou que tinha começado a falar claro depois dos seus próprios paroquianos lhe contarem os abusos sexuais que tinham sofrido durante décadas em Boston e lhe terem pedido que fizesse alguma coisa.

O Cardeal Bernard Law, da arquidiocese de Boston, teve um papel destacado na protecção de sacerdotes implicados em abusos sexuais de crianças para não sofressem qualquer castigo – nem religioso nem civil – transferindo-os sigilosamente para outros lugares. Em 2002, este facto converteu-se num escândalo nacional quando um juiz de Massachutts permitiu a divulgação de milhares de páginas de documentos, memorandos e declarações legais. Estes documentos mostravam uma clara tendência para a ocultação, protectora dos culpados e marginaladora das vítimas, ao revelar que, desde 1940, mais de 1.000 crianças tinham sofrido abusos sexuais na arquidiocese, por parte de mais de 250 sacerdotes e trabalhadores eclesiásticos. O cardeal Law foi obrigado a resignar de forma pouco digna e a arquidiocese de Boston foi condenada a desembolsar como indemnização a 552 vítimas, entre 85 e 100 milhões de dólares.

Esta multimilionária condenação, o aumento de escândalos noutras cidades e a ampla cobertura mediática que os factos tiveram forçaram os bispos norte-americanos a publicar uma «Declaração para a protecção de crianças e jovens», na qual se instituía uma política de tolerância zero, com expulsão imediata dos sacerdotes implicados mesmo que num só daqueles actos. Mas a dita declaração não propôs nenhuma medida contra os bispos que tinham encoberto os delitos.

O então cardeal Ratzinger que estava no Vaticano, recusou-se a dar andamento a este modesto esforço de limpeza. Em vez disso, exigiu que todas as acusações de abusos sexuais fossem transferidas para o Ofício que presidia – a Congregação para a Doutrina da Fé – antes que os padres fossem expulsos do sacerdócio. Um dos seus primeiros actos como papa foi promover o cardeal de Boston, Bernard Law, a um lugar de prestígio no Vaticano.

Numa carta de infausta memória enviada que Ratzinger enviou aos bispos em 2001 e que tem sido profusamente citada, utilizou a sua influência para que as alegações de abusos sexuais se mantivessem secretas sob ameaça de excomunhão. Os sacerdotes acusados de delitos sexuais e as suas vítimas receberam ordem para «manterem o mais estrito silêncio» e «guardar silêncio perpétuo».

O padre Tom Doyle, um antigo advogado do Vaticano, denunciou esta política da cúpula do Vaticano com as seguintes palavras: Trata-se de uma medida explícita de encobrimento de casos de abusos sexuais infantis por aprte do clero e de castigo para os que divulguem este tipo de delito cometido por sacerdotes. Cada vez que se descobriam padres delinquentes a resposta não era investigar os casos e julgá-los mas transferi-los para outro sítio.

Negligência ou cumplicidade criminosa?

Qual é a dimensão dos delitos sexuais cometidos contra a juventude? É a hierarquia eclesiástica culpada por ter ignorado o problema, isto é, de negligência criminosa, ou de ter recusado tomar medidas quando teve conhecimento dos delitos?

Um memorando assinado pessoalmente pelo então cardeal Ratzinger, quando dirigia no Vaticano o poderoso Ofício e depois da centralização de todos os casos, foi publicado em Abril e levantou um enorme burburinho. Ratzinger anulou e interrompeu todas as acções que se puseram contra um padre predador, o reverendo Lawrence C. Murphy.

Murphy foi acusado de abusar sexualmente de mais de 200 rapazes numa escola para surdos-mudos de Milwaukee, apesar das petições a pedir a sua expulsão, inclusive do seu bispo. Durante décadas, os antigos estudantes tinham utilizaram uma linguagem de sinais e juramentos escritos em reuniões com bispos e funcionários civis, em que pediam que o padre Murphy fosse acusado e julgado por tais delitos.

Simultaneamente, soube-se em Itália que 67 antigos pupilos de uma outra escola de surdos-mudos, em Verona, tinham acusado 24 padres e religiosos leigos de repetidas violações que lhes infligiram desde os sete anos.

Na Alemanha, mais de 250 casos de abuso sexual ocultado viram a luz do dia durante os dois últimos meses, inclusive em distritos directamente supervisionados pelo papa Bento XVI quando era bispo.

A publicidade internacional que rodeou o caso judicial de Boston e a multimilionária condenação permitiram que muitas outras vítimas tivessem possibilidade de sair à luz do dia e exigissem justiça. Desde 1950, mais de 4.000 sacerdotes foram acusados nos EUA de abuso de menores e a Igreja Católica pagou mais de 2.000 milhões de dólares em indemnizações às vítimas. Em 2007, a arquidiocese de Los Angeles anunciou que tinha chegado a um acordo por 600 milhões de dólares com uns 500 queixosos. Seis dioceses viram-se forçados a declarar bancarrota e muitas outras a vender abundantes bens eclesiásticos para financiar os acordos.

Muitos destes casos tinham sido descritos detalhadamente por uma organização denominada Rede de Sobreviventes de Abuso Sexual por Sacerdotes (SNAP na sua sigla em inglês). A SNAP é o grupo mais antigo e numeroso de apoio às vítimas de abuso sexual pelo clero.

Mas as vítimas de abuso não foram apenas crianças. Segundo o St. Louis Post-Dyspach de 4 de Janeiro de 2003, foi feita uma sondagem nacional dirigida por investigadores da Universidade de St Louis financiada por algumas ordens de religiosas católicas. A sondagem estimou que um «mínimo» de 34.000 freiras católicas, isto é 40% de todas as freiras católicas dos EUA, tinham sofrido de alguma forma um trauma sexual.

Vale a pena assinalar que a maioria dos testemunhos, das queixas judiciais, das averiguações e das revelações de abusos sexuais tiveram lugar no interior da própria Igreja Católica, e foi feita por antigas vítimas. Muitos outros católicos – indignados – uniram-se a eles para exigir a responsabilização de uma hierarquia clerical privilegiada que vive obcecada pela protecção da sua posição, da sua autoridade e da sua riqueza, em vez de proteger as crianças.

Na Europa existe uma corrente de opinião – cada vez mais numerosa – que pretende levar o papa Bento XVI ao Tribunal Penal Internacional (TPI) acusado do delito de proteger a Igreja e não as suas vítimas. Geoffrey Robertson, membro do Conselho de Justiça das Nações Unidas e presidente do Tribunal Especial da Serra Leoa, disse que julga ter chegado o momento de questionar a imunidade papal.

Num artigo publicado no Guardian de 2 de Abril sob o título «Sentemos o papa no banco dos réus», Robertson escreveu: «A imunidade papal não pode continuar. O Vaticano deveria sentir o peso do Direito Internacional. A pedofilia é um crime contra a humanidade. A anómala pretensão de que o Vaticano é um Estado – e o papa um chefe de Estado imune á lei – não resiste à menor análise.»

Naturalmente, vale a pena recordar que o Tribunal Penal Internacional só apresentou acusações contra quatro países africanos que estavam debaixo da mira do imperialismo.

O TPI ignorou os crimes de guerra norte-americanos no Iraque e no Afeganistão, tal como os crimes israelenses contra civis palestinos e libaneses. Como baluarte que é do imperialismo dos EUA à escala global, parece pouco provável que o Vaticano tenha que responder perante a justiça num futuro imediato.

Contra o movimento global pela justiça

Qual a função mais valorizada pelo imperialismo norte-americano desempenhada pelo Vaticano na sociedade de classes?

Enquanto absolvia, encobria e transferia milhares de padres culpados de abuso sexual de crianças, o papa Bento XVI aproveitou durante 25 anos o seu cargo de direcção na mais poderosa instituição eclesiástica, a Congregação para a Doutrina da Fé, com o objectivo de eliminar de paróquias, escolas e de qualquer posição de poder milhares de sacerdotes, bispos e pessoas religiosas que, de alguma maneira, tinham posições progressistas ou defendiam os direitos humanos e a dignidade dos pobres e oprimidos.

Impediu que os teólogos, docentes, escritores e intelectuais pudessem escrever, publicar e ensinar em instituições da Igreja. Os bispos que tentaram utilizar a sua autoridade para promover uma mudança social foram investigados por deslealdade e forçados a resignar. Substitui-os o clero politicamente mais reaccionário, desejoso de preservar a autoridade religiosa e o dogma.

Este foi um esforço da direita mais extrema para sufocar uma corrente progressista conhecida como a «teologia da libertação», que procurava alinhar a Igreja com os movimentos de libertação e com as lutas anticolonistas e revolucionárias que varriam a África, a Ásia e a América Latina, bem como com o movimento pelos direitos civis nos EUA.

Sacerdotes como o padre Camilo Torres da Colômbia – que escreveu, dialogou e organizou o seu apostolado na tentativa de unir o catolicismo e o marxismo revolucionário – foram considerados uma ameaça directa à exploração capitalista. O padre Camilo Torres uniu-se à luta armada contra a ditadura lacaia do imperialismo e morreu em combate.

Freiras activistas que dirigiam o Movimento Santuário de ajuda e salvo-conduto para os emigrantes salvadorenhos que fugiam dos esquadrões da morte também foram um objectivo a abater, como o foram igualmente Philip e Tom Berrigan, dois sacerdotes sempre à beira da detenção, que cumpriram penas de prisão juntamente com um grupo católico oposto à guerra do Vietname.

Teólogos da libertação como o carismático Leonardo Boff, do Brasil, sofreram a proibição eclesiástica de fazer declarações ou escrever. Sacerdotes que disseram servir os pobres, como o padre Jean-Bertrand Aristide, do Haiti, foram expulsos da sua ordem religiosa e forçados a demitirem-se pelo crime de «glorificação da luta de classes». Samuel Ruiz, o bispo de Chiapas (México), recebeu ordem para se abster de fazer «interpretações marxistas».

Foi uma caça às bruxas e uma purga que tomou como alvo os activistas contra o racismo e a favor da justiça social. No entanto, o reaccionário bispo dissidente Richard Williamson, que negou publicamente o Holocausto, foi calorosamente readmitido na Igreja.

Perante uma oposição cada vez maior em todos os estratos, esta poderosa instituição que durante séculos protegeu as propriedades e os privilégios das classes dirigentes ocidentais, utilizou com afinco crescente as suas forças mais fanaticamente reaccionárias para combater os que procuravam a mudança, a abertura, a igualdade e a atenção para as necessidades dos pobres e dos oprimidos.

Sob a liderança do papa João Paulo II e depois do papa Bento XVI, a Igreja Católica foi um aliado incondicional do imperialismo dos EUA, opôs-se á construção socialista na Europa de Leste. Como contrapartida, os poderosos media norte-americanos promoveram activamente e ofereceram uma cobertura favorável à Igreja Católica, ao mesmo tempo que diabolizavam os muçulmanos e outras religiões de povos oprimidos.

Em 2006, o papa Bento XVI apoiou a propaganda antimuçulmana que Washington tinha exacerbado conscientemente para justificar a guerra e a ocupação do Iraque e do Afeganistão. Num importante discurso papal, Bento XVI citou um imperador bizantino do século XIV que tinha acusado o profeta Maomé de apenas ter trazido ao mundo «coisas malignas e desumanas».

A aliança com o imperialismo norte-americano forçou a Igreja Católica a reviver os mais reaccionários excessos do seu próprio e obscuro passado. Membros de grupos com ligações a esquadrões da morte e ditaduras militares da América Latina e com o fascismo e a extrema-direita da Europa – como a hermética seita Opus Dei e os Legionários de Cristo – foram promovidos às mais altas posições no Vaticano e no mundo.

Dois clérigos fascistas, Josemaria Escrivá – que se colocou ao lado de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial e organizou bandos fascistas para caçar comunistas e sindicalistas revolucionários na Espanha de Franco – e o cardeal croata Aloysius Stepinac – que ajudou a criar campos de exterminação de judeus sérvios e ciganos – foram canonizados como santos.

O facto de proteger e esconder sacerdotes que tinham abusado de crianças ao mesmo tempo que obrigava à demissão as forças religiosas que defendiam os direitos dos oprimidos e se aliavam com os seus movimentos de libertação não é contraditório. A indulgência para com marginais e criminosos e a dura repressão de progressistas são as duas caras de uma mesma política de classe que consiste em defender a autoridade de uma hierarquia estabelecida, uma política que a Igreja vem assumindo em cada assunto social.

Uma visão repressora da sexualidade

Desde o esclavagismo em Roma à sociedade feudal europeia e, depois, como instrumento fundamental da conquista imperial, a Igreja Católica é uma instituição religiosa arreigada na sociedade de classes e no patriarcado. Esta herança patriarcal constitui a base das suas posições repressoras de todas as formas de expressão sexual humana. Quer se trate de homossexuais ou heterossexuais, de casados ou solteiros, a Igreja Católica arroga-se o direito de legislar todas as formas de expressão sexual da sociedade.

Ao mesmo tempo que se recusava qualquer acção contra depredadores sexuais porque isso punha em perigo a autoridade e a santidade do sacerdócio, Ratzinger era o principal executor de arcaicas doutrinas religiosas sobre a sexualidade e sobre a subordinação da mulher na Igreja e na sociedade. Não permitiu a menor liberalização em questões de controlo da natalidade, aborto, divórcio ou reconhecimento da homossexualidade. No interior da Igreja estas regras impuseram-se através do prisma do pecado e da culpa. Aos católicos homossexuais, aos casados depois de um divórcio, aos que praticavam o controlo da natalidade ou às mulheres que tinham abortado recusavam-se os sacramentos e eram excluídos da Igreja ou excomungados.

O peso das instituições eclesiásticas com mais recursos económicos e influência utilizava-se de forma agressiva na sociedade civil para oposição à liberalização das leis do divórcio, e ao direito da mulher ao controlo da natalidade e ao aborto. A Igreja Católica organizava e financiava campanhas políticas contra o matrimónio homossexual e a adopção de crianças por parte de casais homossexuais. E enquanto proclamava o seu dever religioso de proteger os «nascituros», recusava a protecção às crianças que estavam sob o seu controlo.

À medida que ia crescendo a onda de protestos pelos seus ataques contra as crianças que supostamente deviam cuidar, este agrupamento reaccionário tentava converter a sua criminosa ocultação dos crimes numa luta contra os homossexuais, ao ligar a pedofilia – isto é, o abuso sexual da infância – com a prática homossexual, de mútuo acordo, entre os adultos.

No passado dia 14 de Abril, o cardeal Tarcísio Bernone, secretário de estado do Vaticano, atribuiu a pedofilia à homossexualidade, que tachou de «patologia». Numa conhecida carta aos bispos escrita em 1986, o papa Bento XVI descreveu a homossexualidade como um «mal moral intrínseco». Foi mesmo muito mais longe ao justificar e inclusive incentivar violentos ataques contra os homossexuais ao afirmar que «nem a Igreja nem a sociedade deveriam surpreender-se se aumentarem as reacções irracionais e violentas» quando os homossexuais exigem direitos civis.

Estes crimes contra todos os movimentos de povos oprimidos deverão ser incluídos na cólera que hoje desperta a hierarquia eclesiástica.

Os anos de repressão, de caça às bruxas e intolerância organizada fizeram com que a hierarquia católica perca cada vez mais apoios. Está mais desnorteada que a sua própria congregação e totalmente alheada dos valores da sociedade.

Por muito esforço que faça, a Igreja Católica já não poderá recuperar o poder absoluto que teve há 500 ou há 100 anos, quando padres e bispos não tinham que dar contas dos crimes contra mulheres, escravos, servos, camponeses ou trabalhadores iletrados.

As desculpas cuidadosamente redigidas de forma a não assumir qualquer responsabilidade, e os actos de relações públicas com umas quantas e seleccionadas vítimas de abusos sexuais – onde tudo se desenrola de acordo com um guião previamente preparado – não vão resolver a crise que enfrenta a reaccionária cúpula da Igreja Católica.

Hoje, os que sofreram abusos sexuais têm finalmente voz, e também têm aliados. www.workers.org/2010/world/pope_0429/

* Sara Flounders é co-directora do Centro de Acção Internacional de Nova York e estudou durante 14 anos em escolas católicas nos Estados Unidos.

Este texto foi publicado em no jornal norte-americano Worker’s World,

Tradução de José Paulo Gascão

-> Texto retirado do site: www.odiario.info

Colômbia: Estado de Terror em Nome da Paz

James Petras*
18.Mai.10 :: Colaboradores
James PetrasNo texto que hoje publicamos, o autor, James Petras, desmascara a política informativa de formatação das mentalidades e de inversão de valores éticos que se generalizou nos media: “A primeira vítima de um estado de terror é a corrupção da linguagem, a invenção de eufemismos, onde as palavras significam o seu oposto e os slogans ocultam crimes graves.”

Introdução

A primeira vítima de um estado de terror é a corrupção da linguagem, a invenção de eufemismos, onde as palavras significam o seu oposto e os slogans ocultam crimes graves. Já não há um consenso mundial de condenação dos crimes contra a humanidade. Isto porque os crimes em massa e assassínios garantem a segurança dos «investidores», porque os índios são expropriados para que as minas possam ser exploradas, os trabalhadores do petróleo desapareçam de modo que o petróleo possa correr, e a imprensa financeira internacional louva o êxito do «el Presidente» por ter «pacificado o país».

Quando os narco-presidentes são abraçados pelos líderes da América do Norte e da Europa, é evidente que os criminosos se tornam respeitáveis e os respeitáveis passam a ser criminosos.

Mas outras vozes de outras regiões põem na justiça os criminosos de guerra, passados e presentes. Na Argentina, os generais dos desaparecidos têm passado os seus últimos anos por detrás das grades. Em Espanha, no Dubai e noutros lugares foram emitidos mandados de prisão contra comandantes militares israelitas. Tony Blair, cúmplice no genocídio de Bush no Iraque, foge de ser preso na Malásia pelos seus crimes de guerra. A Colômbia, os Estados Unidos e Israel, estão sós na Assembleia-Geral das Nações Unidas, condenados, mas ainda não estão a ser julgados. Os seus dias de impunidade estão a chegar ao fim. Guerras sem fim, corrupção por toda a parte, extensas falcatruas financeiras - podridão interior - estão a corroer as fachadas exteriores do poder militar.

Escritores e intelectuais têm um papel a desempenhar na aceleração deste processo, expondo as mentiras que sustentam as máquinas da morte.

Continuemos.

Mentiras dos Nossos Tempos

Doutrina de Segurança Democrática (nem democrática nem para segurança pessoal):

A corrupção da linguagem acompanha qualquer grande crime político. A noção de «Segurança Democrática» não é excepção. No actual contexto colombiano, assassinar líderes de movimentos sociais para garantir a reeleição de um partido de assassinos políticos é democrático. «Segurança» é o eufemismo para cemitérios escondidos, de sepulturas não assinaladas, de pessoas sem nome. «Liberdade dos Media» existe quando anuncia solenemente outro «importante triunfo militar»…, o assassínio de camponeses desarmados a trabalhar nas suas terras.

Os economistas são «peritos» quando proclamam que a economia está a crescer… só o povo é que sofre. Os políticos são «estadistas» quando declaram que estão «com o povo» - excepto para os 4 milhões expropriados à força e os 300.000 membros das famílias dos mortos e desaparecidos; os mortos e os expropriados estão ainda para apreciar aquele que afirma que «está com o Povo.»

Quando «el Presidente» declara que a guerra é paz, militarização é segurança, desigualdades são justiça social: só aqueles que não conseguem compreender estas Verdades Oficiais é que receiam que lhes batam à porta à meia-noite.

A Definição Oficial de Terrorista

É uma pessoa ou pessoas que não compreendem que o caminho para a paz é através de biliões gastos em aviões de combate, navios com helicópteros, bases militares e a subcontratação de conselheiros militares e mercenários.

Inimigos das conversações de paz

Segundo o «el Presidente», estes grupos dos direitos humanos que se opõem à matança dos adversários e que propõem diálogos em vez de monólogos são os inimigos da paz; só os monólogos asseguram que há só uma «verdade oficial».

O Preço da Prosperidade

Segundo o «el Presidente» e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a pobreza, o desemprego e os baixos salários são o preço a pagar pela democracia e a prosperidade… mas apenas os trabalhadores e os camponeses é que pagam o preço e só os ricos é que prosperam.

Uma Original Definição de Soberania

Segundo o «el Presidente», ceder território a uma potência imperial estrangeira para construir sete bases militares regidas pelas suas própria leis e jurisdição é a nova definição de soberania. Soberania igual a ocupação estrangeira.

Nova Definição de Subversão

Segundo o «el Presidente», acordos humanitários e iniciativas de paz são pretextos para a subversão; os seus defensores sabem imediatamente que serão rejeitados pelo Estado. Em vez disso, desumanizar o inimigo e os defensores da paz, facilitar o bombardeamento das aldeias subversivas, os «verdadeiros» inimigos da paz.

Louvor e Condenação

O que nos diz acerca de um Presidente que é condenado por todos os grupos de direitos humanos e movimentos sociais e louvado por toda a imprensa financeira e instituições militares?

Um Presidente de Recordes Mundiais

Não há qualquer dúvida que o Presidente Uribe deve ser inscrito no Livro dos Recordes Mundiais do Guinness.

Recordes Mundiais

«El Presidente» é apoiado por mais narco-congressistas do que qualquer outro Presidente ou Primeiro Ministro a nível mundial (incluindo o Afeganistão).

«El Presidente» dirige a deslocação de mais pessoas (4 milhões de refugiados) no tempo mais curto (8 anos) do que qualquer outro Presidente a nível mundial (Israel levou meio século).

«El Presidente» concedeu mais bases militares aos EUA do que todos os presidentes juntos da América Latina. «El Presidente» dirigiu a matança de mais activistas sindicais e líderes do que qualquer outro líder mundial (1.500). Por cada morte e expropriação, o Presidente Uribe merece um novo galardão, o Prémio Ignóbil.

Mas ele não está só. Três Presidentes dos EUA, Democratas e Republicanos, Clinton, Bush e Obama concederam biliões de dólares em armamento e centenas de conselheiros para a promoção de 30.000 narco-assassinos dos esquadrões da morte e 300.000 soldados que são os autores das realizações de Uribe nos «recordes mundiais».

É preciso lembrarmo-nos e castigar os crimes passados e presentes contra a humanidade, mas há que ir em frente na procura do diálogo com aqueles que desejem, porque eles são a maioria, que acreditam na paz através da Justiça.

* James Petras, Professor da Universidade de Nova Iorque, é amigo e colaborador de odiario.info.

Tradução de João Manuel Pinheiro

-> Texto retirado do site: www.odiario.info

segunda-feira, 10 de maio de 2010

IURD


A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é uma igreja cristã protestante de tendência evangélica, com sede mundial no Rio de Janeiro - no Tempo da Glória do Novo Israel, localizada no bairro carioca de Del Castilho.

Fundada em 1977, por Edir Macedo, a Igreja Universal do Reino de Deus se tornou o terceiro maior grupo pentecostal do Brasil e está presente em vários países - mais de 170, segundo a instituição -, sendo mais disseminada nos países de língua portuguesa.

Em poucos anos, a Igreja Universal cresceu e, após oito anos de fundação, dispunha de 195 templos em 14 estados brasileiros e no Distrito Federal. Em 2009 (mais de trinta anos após sua fundação), a IURD possuía no Brasil mais de cinco mil templos e dez milhões de fiéis que seguem quase 15 mil pastores.

É considerado o movimento evangélico mais influente do Brasil na actualidade

Reportagem:
1ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=goME1gLR_-o
2ªParte: http://www.youtube.com/watch?v=HLpDcYAyvqw&feature=related

As guerras da dívida avizinham-se na Europa

Michael Hudson
02.Mai.10 ::
“A dívida pública na Grécia é apenas a primeira de uma série de bombas de dívida prontas a rebentar. As dívidas hipotecárias nas economias pós-soviéticas e na Islândia são mais explosivas. (…) Nos últimos anos, essas economias sustentaram taxas de câmbio com empréstimos da União Europeia e do FMI. Os termos desses empréstimos são politicamente insustentáveis: cortes drásticos do orçamento público, taxas fiscais mais altas sobre uns salários já sobrecarregados fiscalmente e planos de austeridade que redundam no encolhimento da economia e da expulsão de mais força de trabalho para a emigração.

A dívida pública na Grécia é apenas a primeira de uma série de bombas de dívida prontas a rebentar. As dívidas hipotecárias nas economias pós-soviéticas e na Islândia são mais explosivas. Ainda que estes países não estejam na zona euro, o grosso das suas dívidas estão denominadas em euros. Cerca de 87% das dívidas da Letónia são em euros, e estão sobretudo nas mãos de bancos suecos, ao passo que a Hungria e a Roménia têm as suas dívidas em euros sobretudo em bancos austríacos.

O endividamento dos governos de países que não fazem parte da zona euro foi contraído para sustentar umas taxas de câmbio que não permitissem ao sector privado pagar as suas dívidas aos bancos estrangeiros, e não para financiar o deficit orçamental do país, como aconteceu na Grécia.

Todas essas dívidas são tão altas até ao ponto de não devolução, porque a maioria destes países está prestes a incorrer em défices comerciais cada vez mais profundos e encontram-se afundados numa depressão. Agora que os preços dos bens de raiz estão a desmoronar-se, os défices comerciais já não podem continuar a financiar-se pelo fluxo de entrada de empréstimos hipotecários em moeda estrangeira e venda de propriedades. Não é possível prever uma forma de estabilizar as moedas (como por exemplo umas economias sadias). Nos últimos anos, essas economias sustentaram taxas de câmbio com empréstimos da União Europeia e do FMI. Os termos desses empréstimos são politicamente insustentáveis: cortes drásticos do orçamento público, taxas fiscais mais altas sobre uns salários já sobrecarregados fiscalmente e planos de austeridade que redundam no encolhimento da economia e da expulsão de mais força de trabalho para a emigração.

Os banqueiros da Suécia e Áustria, da Alemanha e da Grã-Bretanha estão prestes a descobrir que alargar o crédito a países que não podem (ou não querem) pagar pode tornar-se num problema deles, e não num problema dos devedores. Ninguém quer aceitar o facto de as dívidas que não podem ser pagas não serão pagas. Alguém deve arcar com os custos, á medida que as dívidas entrem em mora ou fiquem desvalorizadas; e há muitos juristas que consideram pouco menos que letra morta os acordos que obrigam a devolução em euros. Toda a nação soberana têm o direito de legislar sobre as condições da sua dívida, e os reajustes monetários e as depreciações da dívida não serão nariz de santo.

Não há razões que desvalorizar, a não ser em períodos «excepcionais». Foi isso que Franklin Roosvelt, em 1933, desvalorizou o dólar em relação ao ouro em 75%, elevando assim o preço deste metal de 20 para 35 dólares a onça. Para evitar uma elevação proporcional dos encargos da dívida estadunidense anulou a «cláusula ouro», que indexava ao preço do ouro o pagamento dos empréstimos bancários. E é aqui que se desenrolará agora a batalha política: o pagamento da dívida em moedas desvalorizadas.

Outro aspecto lateral da Grande Depressão nos EUA e no Canadá foi ilibar de responsabilidade pessoal os devedores hipotecários, permitindo-lhes assim não responderem pessoalmente pela falência. Os bancos que executam as hipotecas podem ficar com a propriedade imobiliária dada como garantia da dívida, mas não têm outros direitos sobre as hipotecas. A prática – baseada no direito anglo-saxónico – mostra como a América do Norte se libertou do legado tipo feudal, característico das velhas e duríssimas leis europeias, que davam todo o poder aos credores e manietavam os devedores.

A questão é sempre quem suportará as perdas? Manter as dívidas denominadas em euros provocaria a falência de muitas empresas locais e do sector imobiliário. Ao contrário, redenominar essas dívidas em moda local desvalorizada significará a evaporação do capital de muitos bancos que operam em euros. Mas, ao fim e ao cabo, esses bancos são estrangeiros. E os governos representam o eleitorado nacional. Os bancos estrangeiros não votam.

Os detentores estrangeiros de dólares perderam uma 29ª ou 30ª parte do valor em ouro das suas reservas desde que os EUA deixaram em 1971 de associar ao ouro os seus défices da balança de pagamentos. Agora recebem menos de uma trigésima parte disso, visto que o seu preço atingiu os 1.100 euros a onça. Se o mundo pôde aceitar isso, por que razão não haveria de aceitar a futura depreciação da dívida europeia, que aí vem a toda a velocidade?

Há um consenso crescente que as economias pós-soviéticas se estruturaram desde início em benefício de interesses estrangeiros, e não das economias locais. Por exemplo, o trabalho dum letão suporta uma carga fiscal superior a 50% (trabalhador, empresário e taxas sociais), uma percentagem suficientemente alta para o tornar não competitivo, enquanto os impostos sobre a propriedade têm taxas inferiores a 1%, o que gera um incentivo crescente à especulação. Esta distorcida filosofia fiscal converteu os «Tigres Bálticos» e a Europa Central em mercados privilegiados de empréstimos para os bancos suecos e austríacos, enquanto os seus trabalhadores não puderam ter um trabalho bem pago no seu próprio país. Nada disto – nem essas leis terríveis que desprotegem o posto de trabalho – podem encontrar-se na Europa Ocidental nem nas economias asiáticas ou da América do Norte.

Parece pouco razoável e irrealista esperar que grandes franjas da população da Nova Europa possam aceitar execuções de parte do salário para toda a vida, reduzindo-se a uma servidão perpétua por dívidas. As futuras relações entre a Velha e a Nova Europa dependerão da possibilidade da euro zona redesenhar as economias pós-soviéticas de acordo com princípios mais solventes: com um crédito mais reprodutivo e um sistema fiscal menos inclinado a favor dos credores proprietários e que promova o emprego, antes da inflação dos activos, que empurra as pessoas para a emigração. Além dos ajustamentos monetários para enfrentar uma dívida inabordável, a solução adequada para esses países passa por uma deslocação da carga fiscal, do trabalho para os bens de raiz que se assemelhe mais à Europa Ocidental. Não há alternativa. De outro modo, o inveterado conflito entre devedores e credores ameaça dividir a Europa em dois campos politicamente hostis, com a Irlanda a ensaiar qualquer coisa de novo.

Enquanto não se resolver o problema da dívida – e a única forma de o fazer é negociar uma depreciação da mesma –, a expansão europeia (a absorção da Nova Europa pela Velha) parece encalhada mostrou. Mas a transição para esta solução futura não será fácil. Os interesses financeiros dominam na União Europeia, e resistirão ao inevitável. Gordon Brown já a sua verdadeira surpresa e ameaça a Islândia de usar, ilegal e ilegitimamente, o FMI como agente de cobrança das dívidas que a Islândia contraiu legalmente e de bloquear a entrada da Islândia na União Europeia.

Enfrentando os alardes intimidatórios de Brown – e a dos holandeses, companheiros servis dos britânicos –, 97% dos votantes islandeses opuseram-se à solução da dívida que a Grã-Bretanha e a Holanda queriam impor-lhes com a aceitação dos membros do Athing [parlamento islandês]. Um sufrágio tão elevado nunca se tinha visto no mundo desde os tempos do estalinismo. E isto é só o começo. A decisão que a Europa está a ultimar, presumivelmente fará sair às ruas milhares de pessoas. As alianças económicas e políticas tornar-se-ão instáveis, as moedas desvalorizar-se-ão e cairão governos. A União Europeia e o ainda inteiro sistema financeiro internacional mudarão de forma que ainda não é possível prever. E isso ocorrerá, especialmente se as nações adoptarem um modelo estilo argentino e recusarem pagar até que não sejam feitos descontos substanciais.

Para nações que esperam manter uma sociedade civil moderada é impossível pagar em euros porque os seus bens de raiz e as receitas esvaem-se na dívida técnica, quando as dívidas excedem o valor corrente dos fluxos de receitas disponíveis para pagar as hipotecas ou dívidas pessoais. Os «planos de austeridade» impostos pelo FMI e União Europeia não passam de um paliativo anti-séptico, tecnocrático com que se designam o impacto mortal da destruição da receita, os serviços sociais, os gastos com a saúde e hospitais, a educação e outras necessidades básicas que converterão as nações em «economias saturadas de postos de portagem» em que toda a gente terá de pagar os preços de acesso às estradas, à educação, à assistência médica e a outras necessidades da vida e aos negócios que há muito são subsidiados por uma fiscalidade progressiva na América do Norte e na Europa Ocidental.

As linhas da batalha fixaram-se á volta do modo como vão ser honradas as dívidas privadas e públicas. Para as nações relutantes a honrá-las em euros, as nações credoras preparam-lhes uma boa e musculada recepção através das agências de qualificação de crédito. Ao primeiro sinal de uma nação recusar pagar em moeda forte, ou mesmo á primeira menção de questionar uma dívida externa, as agências começarão a reduzir a qualificação do crédito de uma nação. Isso incrementará o custo do empréstimo, ameaçando com a paralisação da economia através da asfixia do crédito.

O tiro mais recente foi o dispaardo a 6 de Abril quando a Moody’s degradou a dívida islandesa de estável para negativa. «A Moody’s reconheceu que a Islândia ainda podia conseguir uma acordo melhor em negociações futuras, mas disse que a actual incerteza prejudicava as perspectivas económicas e financeiras do país a curto prazo.

A luta começou. Será bastante interessante

* Professor da Universidade de Missouri e analista financeiro de Wall Street

Este texto foi publicado em www.globalresearch.ca

Tradução de José Paulo Gascão

domingo, 2 de maio de 2010




Lady GaGa e a Igreja


Igreja dos EUA diz que "Deus odeia Lady GaGa"

A ultraconservadora Igreja Batista de Westboro, baseada no estado de Kansas, nos EUA, afirmou que a cantora Lady GaGa "vai para o inferno" por supostamente liderar uma "rebelião contra Deus", informou o site Popcrunch.

Liderada pelo reverendo Fred Phelps a igreja, famosa por seus protestos em funerais de soldados norte-americanos mortos em guerras, e por se manifestar publicamente contra gays e lésbicas, emitiu um comunicado intitulado "Deus odeia Lady GaGa".

O documento, publicado no site da igreja, afirma que a cantora usa "moda" e "arte" como disfarce para ensinar os jovens "a se rebelar contra Deus."

A controversa igreja, que não é reconhecida por outras comunidades batistas dos EUA, promete realizar um protesto em frente ao teatro onde será realizado o show de Lady GaGa no Missouri, no próximo dia 7 de janeiro.

Alguns fãs da cantora acreditam que ela tenha sido alvo dos ataques por seu discurso na Marcha para a Igualdade Nacional, evento de promoção da defesa dos direitos dos homossexuais, realizada em Washington no início deste ano. A cantora terminou seu discurso com a frase: "abençoemos a Deus e aos gays".

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sugestão de Documentários:

-> Zeitgeist - é um filme de 2007 produzido por Peter Joseph, aborda temas como Cristianismo, ataques de 11 de Setembro e o Banco Central dos Estados Unidos da América (Federal Reserve);


-> Zeitgeist Addendum - O fracasso do mundo contemporâneo para resolver o problema da guerra, pobreza e corrupção, descansa sobre a brutal ignorância que orienta o comportamento humano. Zeitgeist-Addendum aborda a verdadeira fonte da instabilidade na nossa sociedade, ao mesmo tempo que oferece a única e fundamental solução a longo prazo;

Sobreviver à Nova Ordem Mundial

Sugestão de Leitura

Influências Socias: A Verdade Desconhecida

Questão - Chave: Será a sociedade controlada?

É a esta questão que pretendemos responder com o nosso trabalho ao longo deste ano lectivo (2009/2010). Esperemos conseguir conclui-lo da melhor forma e arranjar os recursos necessarios. Este é um tema que abrange alguns tópicos tais como, a religião, a politica, a economia e os media.